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FÊMEA


Tavernard, Antonio.

Fêmea / Antonio Tavernard - Belém: Paka-Tatu, 2011.

192p.; 14x21cm

ISBN 978-85-7809-097-1

Este livro foi gentilmente cedido pela Editora Paka-Tatu.

 

Antes de iniciarmos esta resenha, nos convém lembrar o período em que o livro Fêmea foi escrito. Consta na data da 1ª edição o ano de 1929, ano em que o panorama da literatura brasileira vivenciava a primeira fase do modernismo (1922-1930), período em que o movimento antropofágico surge, Tarsila do Amaral lança a tela Abaporu (O que come), e período, também, em que se iniciou uma grande depressão econômica mundial, cujo início é marcado pela quebra da bolsa de valores de Nova York. Citados o contexto da 1ª edição de fêmea voltemo-nos agora para o comentário desta importante obra da literatura paraense e nacional.


Proponho-me em meus textos afirmar, principalmente como leitor, que as obras até aqui resenhadas, ou comentadas, como preferirem chamar, são de fundamental importância para o panorama da literatura nacional, e não somente local. Marcio Souza (2014) em seu artigo Literatura na Amazônia, ou Literatura Amazônica, publicado na Revista Sentidos da Cultura – Belém/Pará, nos diz: “O regionalismo, por exemplo, é uma invenção nordestina, um rótulo geográfico e ideológico que os nordestinos - que nunca inventaram a ideia de uma cultura do latifúndio, embora certas manifestações da literatura daquela região tenham um caráter tipicamente latifundiário – fomentaram para se contrapor ao esforço vanguardista do modernismo paulista e carioca. Modernismo, aliás, de que participamos na primeira hora. Abguar Bastos, Pereira da Silva e Bruno de Menezes que o digam. Trata-se de um rótulo tão pouco cultural e histórico que os sulistas acabaram por entender que regionalismo é tudo o que é produzido da Bahia para cima”. Todavia, este não é um debate sobre o valor regional ou universal do livro de Antonio Tavernard, ao contrário, esta é uma avaliação da valor da obra de Tavernard para a literatura brasileira de modos gerais.


Chama-nos a atenção a linguagem dos contos no livro fêmea. Apesar de o período literário em que o autor está inserido ser o modernismo, a linguagem apresenta inspirações românticas do século XIX, é facilmente perceptível a presença do romantismo nos contos de Tavernard. O conto fêmea nos apresenta o viés romântico do autor. No diálogo entre Elmano de Alencar e Guilherme, personagens do conto, Tavernard valida a influência romântica no texto:

“...eu, para quem a imortalidade reservou o mais eterno dos seus nichos, eu, cuja a efígie o bronze, o mármore, o ouro, o pórfiro perpetuará para o assombro dos pósteros, eu, mais alto do que o gládio dos heróis, o cetro dos imperadores, e a tiara dos papas, pelo meu amor ainda, beijar-lhe-ei os pés, a erguerei acima da minha fronte onipotente e clamarei à terra e ao cosmos, para que todos, tudo o saiba e admire: ‘Foi esta que me fez o magno. Foi, esta, unicamente esta. E amo-a, amo-a, amo-a ...”. Percebe-se o exagero, o culto ao amor destinado à mulher ideal.


Comentar a obra de Tavernard do ponto de vista crítico é uma tarefa arriscada para um Arquiteto e Urbanista como este que lhes escreve, contudo, arrisco-me à tarefa de lhes comentar a obra, não para que me saltem aos olhos críticas ou elogios, mas para divulgar ao leitor, que me presenteia lendo esta resenha, a beleza de um livro singular como o FÊMEA.

Tavernard nos mostra uma escrita refinada ao narrar-nos o conto homônimo do livro; todavia, desliza na oralidade caricata apresentada no conto A lição da faca, e Ri quem pode. Ao lermos alguns trechos do conto percebe-se o exagero:

“- Êta terrá cherôso que nem a mundica!”.

“- Ih, Nacleto! Ocê tá drumindo, molongó!”.


Ainda que não me encante o exagero da oralidade presente no discurso direto do texto, o discurso indireto permite que o história possa seguir sem perder a qualidade textual.


A mulher tem destaque na obra de Tavernard; ora descrita como a mulher dos sonhos, ora como a mulher desleal, ora astuciosa. São diversas as características atribuídas às mulheres que esnobam seus homens, desprezam seus amores... todavia, é pertinente observa uma característica comum às mulheres na narrativa de Tavernard, a independência feminina. A mulher que troca de amores, que não se limita à obrigação, a mulher que conquista, e que se permite ser conquistada.


Cenas do cotidiano compõe o tecido da narrativa. Narrativas de um teor literário ímpar. A inquietação do gênio proposto dentro da obra e a linguagem única de Tavernard o fazem um dos principais nomes da literatura paraense do início do século XX. A leitura do livro Fêmea deveria ser obrigatória, não para conhecermos mais uma história, mas para entender as muitas personalidades criadas pelo autor.


FÊMEA é, sem dúvida, um livro indispensável para os amantes da literatura. Aqueles que desejam conhecer as mais variadas formas da escrita literária espalhadas pelo Brasil deverá candidatar-se à leitura do livro de Tavernard para compreender que a universalidade da literatura transcende época, lugares e estilos.

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