Corda no Pescoço
- Douglas N. L. Oliveira
- 19 de jul. de 2017
- 3 min de leitura
Corda no pescoço / Ingo Müller. - São Paulo: Empíreo, 2016.
Ingo Müller, jornalista e escritor belenense, nascido em 1985, lança sua primeira obra literária (Corda no pescoço) pela editora Empíreo, e recebe pela obra o Prêmio Fox-Empíreo de Literatura 2016.
A Amazônia é um cenário de contrastes infinitos de histórias encantadoras. A ambientação do romance de Ingo Müller nos leva a um cenário pitoresco, composto por elementos insolúveis que juntos constroem um interessante palco, onde ficção e imaginação desenrolam a trama textual da aventura de Lisa e outros personagens do livro.
Lisa, protagonista da trama, é abandonada na porta de um convento quando ainda era um bebê. A menina cresce aos cuidados das freiras, preparando-se para o dia em que devotará toda a sua vida aos desígnios celestes. A chegada de Lisa ao convento parece causar divisões entre as freiras, a protagonista do romance parece possuir "culpabilidade" por algo que ainda não sabe, mas entende que as freiras do convento demonstram saber , e principalmente a Madre Superior, a qual lhe atribui como penitência uma peregrinação em plena floresta repleta de perigo, em busca de purificação.
Eis uma penitência! A missão de Lisa é atravessar difíceis momentos com uma corda amarrada em seu pescoço. "Até cumprir sua missão você deve continuar assim, com a corda no pescoço - disse a Madre dando um puxão doloroso no nó que enforcava Lisa. - Que isto sirva de lembrança durante sua caminhada de purificação, e que você seja digna em cada passo dado nesta jornada".
No livro um dos pontos que chama a atenção do leitor é a construção da identidade dos personagens. Personagens com nomes de origem indígena, como o caso de Ubirajara, o Bira, Guaraciaba, etc. Müller usa de forma combinada a ligação nome-personagem. Percebe-se a a adaptação do texto numa Belém colonial, numa Amazônia pouco explorada. Outro item explorado no romance é o uso de elementos do folclore local, como a Matinta-Perera, mula sem cabeça, entre outros. No cenário em que o romance é contado tais elementos misturam-se para construir o ar de aventura que permeia o texto. É impossível não se envolver com a história de Lisa, a garota de beleza singular, coração nobre e gestos valentes.
Imaginar um "gigante", de nome Kujipers, de sotaque estrangeiro, caçando Lisa e seus amigos é de colocar uma pitada de emoção e curiosidade no leitor, que inquieto torce para que o gigante cruel não encontre a menina; mas isso só se saberá lendo o livro. Os personagens são surpreendestes, mas posso - a afirmação é pessoal, nada que o leitor não discorde - afirmar que nenhum outro personagem apresenta um plot twist tão singular quanto o personagem Bira. Para mim foi uma surpresa e tanto - e uma excelente e empolgante surpresa- ver como o autor conduziu o personagem à sua saga final.
O que achei do livro? O livro de Ingo Müller causou-me uma espécie de euforia e incômodo. A euforia explica-se pelo simples fato de perceber que o livro tem o potencial de prender o leitor à estória. Capítulo após capítulo o autor constrói o desejo de saber o que acontece à Lisa. Cenas que se desenham na imaginação conduzindo o romance a uma surpresa, a um elemento que o autor guarda para encerrar o livro com um xeque-mate.
Fica a pergunta: Virá uma segunda parte do livro? Ou ainda, o autor apresentará qual outra aventura que nos prenda a atenção? Que venham outras aventuras, pois a primeira, acredito, foi apenas o primeiro gole do brinde literário que Ingo Müller tem a nos oferecer.
Sem dúvida, Ingo Müller tem um longo caminho como escritor. Mesmo sendo seu livro de estréia logo se vê que Corda no Pescoço é o inicio de uma aventura que inicia sem intenções de chegar ao fim. Recomendo a leitura, recomendo o mix de emoções, recomendo se aventurar por um cenário de contrastes, por um estilo sólido, e por personagens que nos cativam e nos prendem a atenção.
