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O Coração Range Sob As Estrelas


 

COMO RANGER CORAÇÕES SOB ESTRELAS


Desde o título O coração range sob as estrelas, livro premiado no III Prêmio UFES de Literatura de 2016, da poeta Lila Maia, reside uma diversidade de espantos nos poemas, a princípio, destinado a leitura de jovens e adolescentes, que atingem em cheio o que há de mais recôndito de nosso passado. Dividido em dois tomos: “Falta é Falta” e “Pétala ou Vaso?”, os 32 poemas do livro são a escritura de como conjugar todos os resquícios das sobras, pela matéria memória, dos sentimentos mais rarefeitos dentro de nossos dias.


O coração range sob as estrelas pode ser a nossa maneira de não entender tudo, ou mesmo a maneira de ver o mar que sentia(mos) bem dentro dos olhos. Estão imbricadas dentro dos poemas as imagens constitutivas do passado e, ele é ao mesmo instante um tempo no presente de todos nós, pois, dificilmente um leitor não será tocado quando ler esse livro, ao gesto de compreender que os poemas são também parte dele. Entre as imagens mais recorrentes estão a da casa, o avô, o pai, a mãe, os brinquedos, entre outras, a ser um ímpeto chamado saudade.

É um livro que refigura, sobretudo, uma simbologia prismando o tempo representacional do dia, da claridade e não da noite e sua escuridão de pincelar ainda mais a tristeza ocultando as coisas e os seres. É como poderíamos dizer: um livro de manhãs, que ora é explícita ora implícita sugerida somente por outros elementos que fazem naturalmente parte da vivência das manhãs. Por isso mesmo nas pinceladas verbais encontraremos a prefiguração de imagens poéticas muito nítidas. Além disso, é possível encontramos versos apontando para esse lado emblemático feito de manhãs em O coração range sob as estrelas, tais como:

O sol indo embora como quem procura/lugar no mundo.

(poema “Quarto”, p. 24)


A manhã acorda querendo ser noite

(poema “Certeza”, p.40)


Havia um sol sem cara de despedida

(poema “Fim de namoro”, p. 42)


Lila Maia sabe, como poucas poetas, manejar a palavra no sentido maior de traz a lume a comoção de coisas que já não são mais. Suas palavras poéticas possui um peso dialetal que alonga, para além dos poemas, os sentidos que é a vida dentro de cada um de nós. Assim, a poeta elabora uma universalidade, onde a palavra apontará para o sentimento de coletividade. Pois, aparentemente, Lila Maia escritura a sua condição ser e estar no mundo, mas, sua escritura atinge a nossa geografia e nos aproxima de sua poesia, porque sua poética é muito próxima de quem somos, vejam:

Às vezes, a vida tem cara de tigre,

mas a gente finge que vê formigas

para se salvar

(poema “Perder não devia ser verbo para se conjugar”, p. 35)


Há muitas possibilidades de leituras reverberando dentro do O coração range sob as estrelas. Uma dessas possibilidades é olhar para esse livro como um livro-poema. Lê-lo como se cada palavra estivesse conjugando a outra, a próxima e a anterior, ao mesmo tempo; como se cada verso ou poema fosse o movimento incessante do gesto in continuum do que já foi lido e do que ainda vai ser lido.

Além do mais, O coração range sob as estrelas é uma tênue maneira de olhar para dentro de nós. Talvez seja por isso que a maior recorrência dentro da lírica do livro seja a palavra “saudade”, pois, o que há dentro de nós demasiadamente a não ser somente saudade?

Contudo, é preciso dizemos ainda que O coração range sob as estrelas é muito mais que isso. É um livro que traz poemas para deslocar dentro de nossos sentimentos o que há de mais sagrado no que concerne à saudade, o amor, a solidão, o tempo passado presentificado, a liberdade e todos os sóis incrustados dentro dos dias que fazem parte de nossa vida.


Poeta, professor e autor de 30 livros, entre poemas e literatura infanto-juvenil. Vencedor de mais de 40 prêmios literários, entre eles Prêmio da União Brasileira de Escritores, Prêmio da Academia Paraense de Letras, Prêmio Dalcídio Jurandir 2013 e 2017, Prêmio da Academia Brasileira de Médicos Escritores entre muitos outros. É também mestrando em Letras pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, com ênfase nos estudos literários.

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© 2016 por Douglas N. L. Oliveira

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