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Arrastado Pela Correnteza

Arrastado pela correnteza, Roberto Carvalho de Faro. Editora Paka-Tatu, 2014.

 

Quem é o homem amazônico, aquele que nasce em berço esverdeado ou que fixa residência no labirinto urbano edificado no meio da floresta? Uma coisa é certa, amazônico é todo aquele que cultiva em si os gostos e encanto da vastidão que a Amazônia tem. Terra mágica! Um rio que não dorme um encanto nas asas de uma mortalha. Roberto Carvalho de Faro, homem amazônico, caboclo paraense, tateia as palavras com delicadeza, enxerga a essência do feitiço que a literatura regional é capaz de produzir no leitor, em especial em olhos “estrangeiros”.


“A primeira vista parecia um homem comum”. A primeira vista parecia um romance comum. A primeira vista parecia um escritor comum, e a segunda vista não seremos um leitor comum. Quantos Florêncios – personagem principal do livro-, existem por essas terras, essas localidades, lugares, cidades, ou o que melhor convém chamar, em busca de uma “Nova Vida”? Quantos lugares são “Boa Esperança”? A busca pelo novo só nos traz uma certeza: a dúvida de não sabermos o que virá.


Roberto Carvalho de Faro nos traz elementos do cotidiano da vida interiorana amazônica, dos costumes do caboclo, da vida rodeada por águas e floresta. Chama-me a atenção como o uso do conjunto que compõe a paisagem amazônica é utilizada em nossa literatura regional, e isto – que me perdoem os críticos e acadêmicos que detém o conhecimento literário (sic) -, por algumas vezes “estafa” a apreciação do texto, porém – eis a diferença-, o autor de Arrastado pela correnteza sabe exatamente como empregar cada elemento do folclore, do cotidiano e do colóquio amazônico que a leitura torna-se uma cortesia literária do autor para o leitor.


O livro é, além de uma descrição de uma parte da vida amazônica, uma interrogação sobre punição e recomeço de vida. Não me convém narrar o final de Florêncio, tampouco o que acontece a Teca, esposa do protagonista, menos ainda sobre o destino de “malhado” – cachorrinho dócil adotado pelo protagonista do romance-, todavia condiz atentar para o modo que o autor conduziu-me até os postremos capítulos, onde os mesmos salientam a análise da condição do personagem que o leitor é induzido a fazer e responder a si mesmo: até onde fugiremos para obter uma Nova Vida, haverá sempre uma Boa Esperança, o “pecado” é expiado por um recomeço, a justiça é misericordiosa? Respostas que cada um terá lendo Arrastado pela correnteza.

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