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MULHER COM O SEU AMANTE

Mulher com o seu amante/ Stella Pessôa - Belém: Paka-Tatu,2009. 100p.

Este livro foi gentilmente cedido pela Editora Paka-Tatu.

 

Maria Stella Faciola Pessôa Guimarães é uma escritora paraense, engenheira civil e analista de sistema de informação. Como escritora recebeu, em 2004, o Prêmio "Terêncio Porto" da Academia Paraense de Letras pelo livro de contos "Ficção em vez de confissões".

 

Stella Pessôa é uma escritora diferente, com escrita e pensamento peculiar. Chamou-me a atenção o livro ter ganho o Prêmio “Samuel Wallace Mac-Dowell” – pela Academia Paraense de Letras, no concurso anual de 2007 no gênero: conto. Todavia, é de crônicas que o livro é composto. Mas isso não vem ao caso, deixo essas particularidades aos acadêmicos. Chamou-me a atenção, também, os desenhos, da capa e das gravuras de miolo, de Haroldo Baleixe, traçados, ao que parecem, com caneta nanquim, representando uma mulher desnuda coberta por letras caligrafadas, estampadas num vermelho animado.


Já nos diz o escritor gaúcho Fabricio Carpinejar “o amante é uma espécie de férias familiar”. Mas o que se faz quando o amante é para a vida toda? Quando nos acompanha e nos alivia da conjugal vida extenuante? O amante que consola a alma, que produz sonhos, que desconstrói barreiras, um amante que nunca é amante de um dia, mas para todo o sempre.


Stella Pessôa alimentou relação com diversos amantes, não à toa que transcreveu este livro, o qual me prendeu pelas pernas, arregalou-me os olhos e conduziu-me AQUELES MOMENTOS DE INLUCIDEZ. Essa inlucidez que a autora não encontrou no dicionário, não descobriu patente, e que não aventuraram traduzir-lhe, é resultado do que não existe no imaginário, encontra-se degustando a vida, aos pouquinhos.


Acanho-me ao falar sobre tão nobre autora, que teve seu livro comentado, em 2008, por ninguém menos que Benedito Nunes, filósofo, professor, critico de artes e escritor, ganhador, por duas vezes do Prêmio Jabuti de Literatura. Todavia, Benedito Nunes não é o cerne deste texto, o centro das atenções é A mulher com o seu amante.


O amante de Stella, ou os amantes, não é o homem comum, tampouco o extravagante. Os amantes da autora, e que sim, toda mulher deveria ter, são os livros. “Ela criou estes textos acompanhado de Machado de Assis, Lima Barreto, William Shakespeare, Marcel Proust, Manuel Bandeira, Chico Buarque de Hollanda, Pablo Neruda. E outros mais...”. Quem quiser saber sobre suas adoráveis companhias, os seus tantos amantes, os encontrará em “As Reinações de Narizinho”, “Em busca do tempo perdido”, “Dom Casmurro”, “Hamlet”, tantos amantes Stella teve que conta-los é delatar um caso tão encantador.


Chegar a casa, bem à moda clichê de novela, e gritar da porta: querida, cheguei! Imaginar a mulher, com camisola de seda, estirada na cama e o amante repousando ao seu lado, ela sequer se mexe, continua olhando para aquele que lhe arranca suspiros. O marido avança pela casa, desfaz o nó da gravata, abre a geladeira para tomar um copo d’água; pausa por um instante e percebe o silêncio do lar, desconfia que algo estranho está acontecendo, caminha vagaroso até o quarto e depara-se com a cena: vê a mulher dedicada ao amante que tanto ama, o livro. Aproxima-se dela, beija-lhe o rosto e acompanha-a nessa aventura com o amante, forma-se, quem sabe e por que não, o triangulo amoroso.


“O que os livros fazem comigo, avanço dentro de mim para tentar responder”. O que as crônicas presentes no livro de Stella Pessôa fazem comigo é exatamente isso, arrastam-me para dentro do cotidiano da autora a fim de conhecê-la – porque respostas ainda não quero; “fico em estado de graça desde agora”.


Mulher com o seu amante é um mimo literário que Stella Pessôa nos presenteou – infelizmente a autora deixou-nos em 2016, órfãos de suas crônicas, famintos por seus amantes. Ler os textos desse livro é nos identificar no outro, é compreender que “como águia, quantas vezes revivemos”. Fica o aprendizado: “Não quero mais maridos, amantes, namorados, companheiros, vínculos... Muitos me perguntam por que eu vivo sozinha. Correr o risco de trocar Neruda em miúdos? Correr o risco de mais uma separação de bens? Pra quê? Nunca!”. Com Stella Pessôa se aprende que quem lê jamais viverá sozinho, que dentro de nós existe um mundo que se constrói com quantos livros pudermos ter, que olhar a vida implica escrever sua história.


“A menina que virou mulher, também se fez escritora”.

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