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FICÇÃO em vez de CONFISSÕES


Pessôa, Stella.

Ficção em vez de Confissões: contos, encaixes e outros escritos / Stella Pessôa. - Belém: Paka-Tatu, 2005.

 

Livro Premiado


Prêmio "Terêncio Porto", pela Academia Paraense de Letras, como vencedor do Concurso Anual de 2004 / Gênero: Contos.


 

O primeiro contato com Stella Pessôa foi no livro A MULHER COM O AMANTE, este é o meu segundo contato com a autora.


Levo-me a perguntar: por que ficção ao em vez confissões? O que o texto de Stella Pessôa confessa-nos e por qual motivo é envolvido no tecido ficcional da literatura? Meus registros não são tomados por observações catedráticas, tampouco por instância crítica e teórica; considero minhas observações do ponto de vista de um leitor, afinal, leitor somos todos nós – inclusive os críticos e catedráticos.


O que se observa ao ler os dezessete textos do livro Ficção em vez de Confissão é a voz ativa feminina, a mulher dentro e fora da narrativa. A voz que narra é a mesma que vivencia as crônicas dos textos; mas este é o primeiro ponto que observo.


Neste parágrafo abro um parêntese. O melhor texto desse livro – eis aqui uma informação baseada em questão de gosto -, é o conto ESTAMPIDO. Por que ESTAMPIDO? Eça de Queirós, um dos maiores representantes da literatura portuguesa nos diz: “No conto tudo precisa ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos apenas o que caiba num olhar, ou numa dessas palavras que escapa dos lábios e traz todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida.”

Ainda dentro do parêntese, ESTAMPIDO apresenta a característica de um conto realista; possui seu espaço, tempo, foco narrativo e personagem – não que os outros contos não apresentem tal estrutura -. É imprescindível ler e reler esse conto. Diferente dos demais, a autora aborda uma questão presente no dia a dia da sociedade contemporânea, e que é constante tema de debate filosófico e social: o suicídio. Eis um trecho do conto: “Mas o mundo real não era a casa de Augusto. Um dia ele precisou sair de casa e enfrentar outro contexto: capitalismo selvagem, lucros torpes, crimes, traições, mentiras, degradação moral, falta de ética, opressão, pobreza, prostituição, desigualdades, corrupção, injustiças, tirania da informação e do dinheiro, confusão dos espíritos, insensibilidade das elites, doenças, gente venal, conveniências e conchavos libertinos. Um mundo de verdade...”. Observemos as condições mundanas que cercam Augusto e nos perguntemos: não existem ai questionamentos suficientes para longos debates? Não é este um texto que nos mostra as vísceras da nossa sociedade?

Outras narrativas não são menos importantes, todavia, aprofundam-se num cotidiano mais individual da autora. A exemplo do conto ADULTÉRIO. Stella Pessôa nos faz uma descrição textual a partir de seu olhar feminino sobre o tema narrado; percebe-se a consciência literária da autora ao analisar tal assunto, no entanto, a adaptação é uma de suas ficções, que nos soa como uma confissão.

Portanto, ao lermos o livro Ficção em vez de Confissão tenhamos em mente que Stella nos apresenta uma ficção intencionada de confissões; e ao lermos tais relatos, conhecemos um pouco mais da autora e sua visão de mundo.

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